Você já imaginou que uma arte marcial ancestral poderia ser a chave para libertar o peso que carrega no peito?
Meu mestre na Índia me disse, certa vez, que “a meditação começa no corpo”. Eu não entendi, até o dia em que encarei o Kalaripayattu – uma prática que não se resume a golpes ou movimentos, mas a purificação dos nossos corpos sutis e o despertar espiritual.
Tudo começou em 2015, quando eu buscava depois de anos e vindas a Índia, por um mestre que me guiasse nas meditações. “Sua coluna não tem força para sustentar as meditações tântricas, ele disse. E eu, que já havia mergulhado no Hatha Yoga de Kashmir, em retiros pela Índia desde os 22 anos, precisei aprender a humildade de recomeçar: 90 dias de Kalaripayattu, inflamações nas articulações, noites de dor que me faziam questionar se valeria a pena.
Mas havia um segredo nessa prática.
Na época, eu carregava um luto invisível: o fim de um relacionamento que deixou feridas abertas na memória. Por mais que tentasse meditar, as imagens do passado voltavam como fantasmas. Foi então que o Kalari me revelou sua verdadeira essência: cada golpe no solo, cada giro no ar, era um ritual para queimar as amarras que eu mesma havia criado. Em um mês, meu corpo não era o único que se fortalecia – minhas emoções, aos poucos, paravam de sangrar.
Voltei ao Brasil sem minha iniciação na linhagem de meditação que tanto sonhava, e para suportar a intensidade dos treinos de kalari, abracei a capoeira. Sete meses depois, ao retornar à Índia, meu mestre não me levou à arena de kalaripayattu. Me guiou direto à sala de meditação. E ali, finalmente, sentei sem medo e recebi minha iniciação nessa linhagem que cultua a energia shakti através dos treinos de kalari.
Hoje, entendo: o Kalaripayattu não é sobre guerrear contra o mundo. É sobre honrar a inteligência emocional que nasce quando o corpo aprende a transmutar dor em presença. Cada movimento é um diálogo com as sombras que carregamos – e uma forma sagrada de dizer: “Você não me define mais”.
Se você também sente que algumas cicatrizes precisam ser curadas não com palavras, mas com ação consciente, talvez esta seja sua mensagem.
Afinal, quantas de nossas feridas estão apenas esperando uma prática que as ensine a dançar? Passara mim, o kalari é esta dança entre o masculino e o feminino, que me leva para um lugar de centro e quietude que eu jamais experienciei em nenhuma outra prática. E foi para facilitar o caminho dessa arte marcial que criei minha metodologia – que chamo iTantra – I vem do inglês e significa Eu, um os nomes para definir o tantra é expansão. iTantra significa a expansão do seu Eu real através de práticas como Kalaripayattu, yoga e meditação. Wal Nunes