Sri Vidya Tantra – O despertar
Há 22 anos conheci o yoga e desde então muitas memórias da prática e o quanto ela mudou minha vida.
Muitas viagens a Índia e mundo afora, morava em Londres e tinha um único objetivo – deixar de ser aquela garota deprimida, com complexo de inferioridade e mudar o que a vida parecia ter destinado a mim.
Com a prática comecei a sonhar muito, e deixei meus sonhos me guiarem. Foi por causa deles que conheci o Yoga Integral e abri uma escola com este nome. Foi através dos meus sonhos também que conheci meu Guru, e descobri mais tarde que o mestre dele, foi também mestre da Mirra Alfassa, a filósofa que mais estudo nos últimos anos.
E foi o destino que me levou as pessoas certas para guiarem meu caminho espiritual. Há 7 anos estudo com um mestre do sul da Índia, na região de Kerala, sou iniciada com ele nas meditações do Tantra. Desde então algumas idas e vindas a sua casa e escola no sul da Índia, um despertar e necessidade de está sempre ao lado deles, a sensação de ter encontrado um lugar no mundo a qual me sinto realmente parte.
Na tradição Sri Vidya Tantra, do qual sou iniciada, nos tratamos como uma família espiritual que se reencontra aqui na terra. Todos tem o papel de ajudar no progresso um do outro, e assim todos crescem numa mesma sintonia. No tantra entramos no julgamento do que é certo ou o que é errado, tudo no universo faz parte de um grande jogo e aprendemos com cada escolha.
Ano passado não conseguir visitar minha família indiana e um dos meus tios espirituais se convidou para passar uma temporada na minha casa. Há um mês o mestre em meditações Tântricas, o americano James Walkup, está na minha casa.
Desde que ele chegou meditamos sem parar. Esta linhagem de meditação é feita com mantras específicos para cultivar a energia da Deusa, a mulher é papel importante no ritual.
O Sagrado feminino é cultuado para o despertar da Grande Consciência. A Energia Shiva, a representação da força masculina do Universo fica estagnada, esperando a energia shakti se movimentar para a união das forças acontecerem. A força feminina é dinâmica e de realização, a masculina sustenta e envia sua luz para os planos mais baixos.
Nesta tradição é o poder feminino que atinge, alcança e transforma, através deste apoio da energia de Shiva. O ritual é um culto a deusa e tudo que ela representa em nós, e como o James está na minha casa, preciso está presente em todos rituais, primeiro por que ele está aqui para me ensinar a fazê-los de acordo com a tradição, segundo por que é minha energia que determina que trabalho é realizado aqui.
Quando meditava com meu mestre na Índia, sempre achei esta energia uma força da qual não conseguia suportar. Sempre lutei durante todos rituais que participava lá. Poucas vezes, consegui entender de fato o que era esta força, mas sempre fiquei fascinada com todo ritual e desde a primeira vez, disse a ele que queria aprender aquilo, me preparar para um dia levar esta prática e poder levar esta transformação a mais gente.
A energia de cura que você recebe durante o ritual é visível.
Nos primeiros dias sua cabeça parece que vai explodi, há momentos onde você lida com seus desejos e medos.
Os sentimentos ficam tão confusos, que tudo parece ser uma coisa só. Depois de sete dias meditando todos os dias aqui no Brasil, entendi finalmente a energia.
Foi a primeira vez que meu corpo recebeu a força sem sentir dor, senti finalmente que o corpo estava alinhado, estava finalmente me abrindo para aquele trabalho. E aí você começa a meditar mais, a paixão e a felicidade toma conta do ser.
Tudo que você precisa e deseja é um pouco mais daquela luz, daquela alegria. Mas aos poucos tudo muda de novo, você começa a lidar com suas sombras, seu lado mais obscuro, seus desejos vem a tona novamente, a raiva e a agressividade fica tão a flor da pele, que um oi num tom mais alto, já lhe incomoda. Você passa a lidar de novo com a dualidade da vida.
Percebe a presença Divina em você, ela empurra para frente tudo aquilo que você escondia, lhe faz olhar no espelho de uma forma tão nítida que você se perde, não se reconhece.
E ontem tudo mudou, por que o cansaço finalmente bateu no corpo, nunca estive tão consciente de mim mesma, do meu presente, do meu passado e futuro. Nunca estive tão certa de que tudo está no rumo que deveria está, que minha missão só está começando, e esta grande consciência está me preparando para realiza -la.
Mas o corpo queima de febre, toda minha coluna está desperta, tudo dói, sinto calafrios, adormeço e me perco nos sonhos, a clareza mental é tão forte que percebo a fraqueza do corpo, sei que ele não consegue suportar tanta energia, mas sei também que não sou este corpo e sei que posso ir além.
O corpo é uma limitação ilusória e se quero ir além preciso quebrar esta falsa compreensão de que sou este corpo. O corpo é apenas um instrumento, pequena parte de um todo, preciso ir além. E neste além, sinto meu corpo morrer aos poucos. E nesta descida cósmica da consciência sinto medo, sinto as fraquezas da carne, peço colo.
Me irrito com James, e ele com sua sabedoria me apoia, diz que é parte do processo, logo tudo passa. Diz que não estou só, a Grande Deusa está comigo.
Acordei pálida, exausta, e com tanta energia em mim, que não sei definir o que se passa comigo.
O James disse que estou verde, estou em paz, estou seguindo meu coração, minha verdade interior.
Texto escrito 5 anos atrás, encontrado no meu diário de meditação.
Wal Nunes